quarta-feira, 10 de abril de 2024

O CARROCEIRO DE AREIA EM ITAMBÉ

       Quem vê superficialmente a vida das pessoas do interior da Bahia ou do Brasil, não se dá conta de certas profissões informais que tanta vida dava às cidades. São as quituteiras de salgados mais diversos, dos vendedores de picolé e de espetinho e de leite. Dentre estes estão os carroceiros de areia.

    O carroceiro de areia é uma profissão bem antiga na cidade de Itambé. Nos seus primórdios, o município necessitava muito da tração animal para o transporte de gêneros agrícolas e manufaturados. O automóvel ainda não havia chegado ao município e o transporte mais usado era o cavalo, o burro e o carro de boi. Com o advento do automóvel e do pneumático, vieram, também, a charrete usada para a locomoção de fazendeiros e a carroça com a finalidade quase exclusiva do transporte de mudas, de gêneros alimentícios e de material de construção.

            As charretes foram extintas com a chegada do carro, porém, a carroça ainda, hoje, é usada para o transporte mais diverso, do qual o mais freqüente é a areia. Trazida do Rio Pardo ou do Verruga, a areia é vendida, até hoje, na cidade por carroceiros que viviam quase exclusivamente dessa profissão.

              Antigamente havia na cidade aproximadamente cerca de 30 carroceiros e todos eles costumavam fazer uma média de 4 “carradas” por dia e costumavam levar areia, tijolos, telhas, cimento, muda, gêneros alimentícios, etc. Para o Sr. Osvaldo Neris da Silva, carroceiro já aposentado que chegou a fazer 10 “carradas” por dia, essa profissão deu para sustentar perfeitamente a família durante toda a sua vida. Mas para o seu Maurício foi uma profissão que só deu, exclusivamente, para “o pão de cada dia”. Além do milho e das ferraduras periódicas para o animal, o que sobrava era muito pouco para ter uma vida mais digna.










 

 


terça-feira, 2 de abril de 2024

O CINEMA EM ITAMBÉ


         Dos seus entretenimentos sociais, o cinema  foi, sem dúvida, o mais importante em Itambé. Além da diversão, trouxe ele uma transformação social nos costumes, na cultura, na educação do povo da cidade na década de 50.
      Os serões familiares, as festas religiosas e sociais deram lugar às narrativas brilhantes e espetaculares vindas de Holywood. Elas invadiram a cidade como um tufão despertando na fantasia das crianças e adultos o sonho em viajar e conhecer outras realidades e lugares.
      Havia nesta época três cinemas para todos os gostos e todos os bolsos: o Cine Fox, o Cine Conceição e o Cine Boulevard. O primeiro ficava no centro da cidade e dele ainda resta hoje o prédio que se transformou depois em teatro  e templo religioso. Era maior o prédio e para o qual afluíam em todas as noites e fins de semana, o adulto para os "soirées" e o jovem para as "matinées".
       Já o Cine Conceição situava-se na Praça da Bandeira, o Centro Administrativo e cultural mais importante da cidade. Funcionava ao lado de uma Panificadora e Sorveteria do Sr. Flávio Simões e Milton Scaldaferri. Era menor, mas mais aconchegante. Além de uma "bombonière"  no seu interior, havia uma sorveteria ao lado pertencente  ao mesmo empreendedor. O Boulevard era o cinema do povão e se caracterizava, principalmente, pelas projeções dos filmes de faroeste.
        A propaganda dos filmes era feita em cavaletes de madeira ou pintados nos muros e paredes da cidade. Mas havia, um carro com auto-falante que costumava fazer a propaganda dos filmes mais importantes e badalados na Bahia e no Brasil. Eles chegavam de Conquista na "marinette" e era uma tristeza geral para os seus "habituées" quando eles faltavam.
         Das películas projetadas no Cine Fox, as que mais despertaram interesse, sem dúvida, foram os filmes religiosos da Paixão e Morte de Cristo e os Dez Mandamentos (em sessões de 2 horas cada). Além de um filme em terceira dimensão que era assistido com um óculos. Durante uma semana só se falava dos sustos que provocaram estas projeções.
      Houve um filme que fez sucesso nessa época:  Marcelino, Pão e Vinho. Como era um filme de temática italiana e religiosa, os padres Vocacionistas fizeram questão em estar presentes e fazer propaganda no Ginásio Gilberto Viana e na Matriz.
           A televisão tomou o lugar do cinema em Itambé. a partir da década de 60 com os primeiros e grandes aparelhos ainda em preto e branco. Uma tentativa  promissora do cinema da restauração na cultura local se deu no Governo do Sr. Moacir Andrade com  a vinda para a cidade do francês Sr.  Didier esposo de Dona Vitória filha do Sr. Queiroz. Além da restauração do antigo Cine Fox, ele movimentou todas as comunidades locais para a projeção de filmes nas Praças e na sua residencia.
           Com a sua mudança para Mairu em Barra Grande no Sul da Bahia, o interesse pelo cinema se extinguiu na cidade. Atualmente, a restauração do cinema vem sendo feita pelo Prefeito atual Sr. José Cândido Rocha Araújo para a alegria da cultura local.
















        

segunda-feira, 1 de abril de 2024

A SEMANA SANTA EM ITAMBÉ ATUALMENTE

           A Semana Santa no presente em Itambé foi, realmente, um acontecimento religioso importante e brlhante que movimentou toda a comunidade católica. As procissões estevam sempre  cheias de fiéis para prestar este culto ao Redentor da humanidade. Mas onde mesmo, ela   se apresentou mais atraente, piedosa e bela foi nas cerimônias litúrgicas realizadas unicamente pelo Pároco Principal Pe. Wesdras dos Santos. Vejamos passo a passo como procedeu ela.

            A Procissão de Ramos abriu, certamente, a Semana Maior dos católicos em Itambé pela manhã. Após a Bênção dos Ramos pelo Pároco local e a troca das rosas pelos fiéis, a Procissão  partiu cantando, rezando e acenando os ramos em direção á Matriz de São Sebastião, onde, em seguida, foi realizada a celebração da Santa Missa. Acompanhada de um carro de som tocando músicas religiosas variadas e emitindo mensagens respondidas pelos fiéis, o cortejo só parou na entrada principal do templo. 

             Depois da Leitura intercalada do Evangelho, a cerimônia litúrgica transcorreu naturalmente até chegar à  homília do sacerdote que foi curta e se restringiu a um comentário e significado desta bela passagem evangélica de Nosso Senhor Jesus antes dos seus padecimentos e morte na Cruz. 

         Na terça-feira, pela manhã, o centro da cidade esteve bastante movimentado e festivo com a tradicional Via Sacra realizada em vários pontos da cidade e acompanhada e comentada pelo Pe. Antônio Miranda. O seu cortejo foi abrilhantado pelo Grupo de Jovens encenando a Paixão de Cristo por onde passava. 

           Na Quarta-Feira foi realizada o tradicional Encontro na Igreja Matriz da Mãe Dolorosa com Jesus escarnecido e maltratado levando a Cruz às costas de caminho ao Calvário. Enquanto a Procissão dos homens partiu da Capela de Nossa Senhora das Graças, a das mulheres partiu da Capela de São José Operário.

              A Quinta-Feira Santa dedicada à Instituição da Eucaristia  foi realizada na Igreja Matriz pelo Pároco local Pe. Wesdras dos Santos. Na homília tratou o sacerdote a importância da Memória e da Partilha na na história da Igreja e conclamou os fiéis o respeito, a amizade e a paz durante o todo Ano Político. Participaram do Lava-Pés 12 pessoas da comunidade local desde criança, senhoras e o editor da revista O Arauto d Itambé o Prof. Carlos Leonor Ribeiro de Brito, ao Prefeito José Cândido da Rocha e os ex-Candidatos da Eleição passada Dona Cleia Malta e o Dr. Ageu Pimentel.

            A Sexta-Feira Santa começou às 15:00 horas e só terminou às 17:00 horas. Além do tradicional ato de humildade do sacerdote pela nave central e da Adoração e do Ósculo da Santa Cruz pelos fiéis, não houve Missa e  somente o desnudamento da toalha do Altar e a distribuição da Eucaristia para os fiéis.

             O ponto alto de toda a Semana Santa em Itambé foi, certamente, a Vigília Pascal realizada Na Matriz às 20:00 horas não só pela participação de toda comunidade quanto, sobretudo, pela unção e beleza da Liturgia. Reunidos no pátio da Matriz, o Pároco e toda a comunidade, compunham o ambiente santo desta noite sagrada considerada a justo título a mais importante do Tempo Litúrgico da Igreja. Tudo estava escuro e só se via uma fogueira em torno da qual os fiéis com velas acesas e e Pároco com o Círio Pascal para lembrar Cristo, a Luz do Mundo. Assim que o cortejo entrou no templo em meio a escuridão total, as luzes foram acesas e o ritual da Missa começou. Neste ocasião, participaram, também, quase  quarenta adultos, homens e mulheres, que iam se batizar. A homília do Pároco constou de um comentário eloquente das leituras da Bíblia e, sobretudo, do Evangelho do Dia.

         A Cerimônia do Domingo começou às 18:00 horas e fechou a Semana Santa em Itambé. Dela tratando o celebrante da passagem do Evangelho da ressurreição de Cristo e a visita dos Apóstolos e das Santas Mulheres ao Túmulo do Senhor, comentou com eloquência e sabedoria a pressa do Amor de Deus do Apóstolo São João Evangelista e de Santa Maria Madalena. 






















segunda-feira, 25 de março de 2024

A SEMANA SANTA NO PASSADO EM ITAMBÉ



        Quem viveu até 1960 em Itambé deve lembrar como era a Semana Santa na cidade. Após esta data, quando foi realizado o Concílio Vaticano II pelo Papa São João XXIII, a Liturgia da Missa e as normas acidentais da Igreja mudaram, sem dúvida, em toda a Cristandade e em Itambé também. 

       O comportamento da comunidade católica e, também, do povo da cidade era, acentuadamente, penitencial. O jejum era completo de 24 horas; Vigorava a abstenção de carne e de qualquer brincadeira; o uso do véu e da saia comprida para as mulheres eram mantidos à risca na sociedade e, especialmente, durante todas as cerimônias litúrgicas.

         Ela era aberta  com a Procissão dos fiéis pela manhã no Domingo de Ramos pelas ruas centrais da cidade; Na Quarta-Feira era realizada a procissão do Encontro de Jesus Chagado com Nossa Senhora das Dores.

         Na Quinta-Feira Santa, às 15:OO horas, era realizada a Missa solene da  Instituição da Eucaristia com o Lava-Pés. 

       A Cerimônia mais solene da Semana Maior era realizada, porém, na  Sexta-Feira Santa com a Adoração e o ósculo da Santa Cruz pelos fiéis.

        No Sábado Santo era realizada a Vigília Pascal, à noite. com os Catecúmenos reunidos no Pátio e entrando no  templo com velas acesas. Após a Missa era realizada a Procissão pela cidade do Senhor Morto com as paradas alternadas de uma mulher representando Santa Verônica, portando um pequeno Sudário e lendo um pergaminho com uma mensagem pungente da Paixão de Cristo Nosso Senhor. 

     A cerimônia mais alegre e brilhante era realizada no Domingo da Ressurreição quando a tristeza e o luto  davam lugar à alegria e o júbilo.  Todos os tecidos negros que velavam as imagens  eram retirados sob a proclamação do Cântico Aleluia. À noite, era realizada uma grande Procissão de Cristo Ressuscitado pelas principais ruas da cidade. 

           O Sábado de Aleluia quebrava-lhe a tristeza com a queima do Judas e a leitura  hilariante do seu Testamento em alguns lugares da cidade. O domingo da Ressurreição era, contudo, o dia  maior e mais importante  da Semana Santa, quando, festivamente, as famílias comemoravam com uma ceia faustosa regada com vinho e a ida à Missa Pascal. 

      Por falta de autênticas, cingimos a ilustrar o texto com imagens aleatórias de cerimônias litúrgicas realizadas num passado mais recente na Paróquia de São Sebastião em Itambé.















        








sexta-feira, 22 de março de 2024

O LENHADOR EM ITAMBÉ

        Das figuras folclóricas e populares da história do município, os lenhadores João Lascador e Jesuíno (Sr. Zu) , foram figuras típicas na cidade na década de 40.  Enquanto o primeiro se perde nas brumas do passado,  o Sr. Zu, falecido com  quase 9O anos na década de 8O é mais conhecido e lembrado por todo o itambeense. Além de desbravador da Piabanha, da Limeira, do Catolé, da Jiboia e da Serra do Marçal, foi também um dos mais eficientes limpadores de quintais da zona urbana da cidade. Era o fornecedor  natural de lenha para várias famílias da comunidade. Seu trabalho era indispensável na cozinha, na construção civil da zona urbana e rural.

             Sua  presença na cidade era amiga, embora assustasse as crianças porque era preto e dentuço. Trabalhava em silêncio parecendo conversar com os animais e auscultar as aves por perto.

         O Lenhador foi uma das figuras da história da humanidade que muito contribuiu para o desbravamento orgânico e natural do mundo até o advento da tecnologia atual. A grande predação e extinção das matas em nossos dias não existia no passado, quando a extração da madeira era feito individualmente e a machado. O fenômeno assustador que tanto tem preocupado o país, especialmente o IBAMA, com a extinção de espécies da fauna e da flora, é moderno e se deveu à falta de conscientização do desenvolvimento sustentável só agora apregoado pela mídia em nossos dias.

         Até a década de 60, o município de Itambé era rico de madeiras de lei. O cedro, a peroba, a sucupira, o  jacarandá, etc. abundavam nossas matas. Tanto é que o seu Brasão de Armas ostenta, como suporte, um feixe de madeiras. A existência do lenhador ou  mesmo do serrador não comprometia o meio ambiente nem impedia o florescimento da construção civil e a indústria de móveis.

        Carpinteiros famosos, como o Sr. José de Alaíde, fizeram mobílias de jacarandá em vários estilos e que são, até hoje, guardadas com carinho por famílias tradicionais de Itambé e da região. Atualmente, dessa riqueza, só resta a saudade. O mau uso da moto serra e do automóvel extinguiu, praticamente, todas as suas reservas.